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Todo o conteúdo presente neste site é fictício e foi criado exclusivamente para fins de RPG e entretenimento. Nenhuma das situações, personagens ou eventos descritos aqui são reais ou baseados em fatos reais. Qualquer semelhança com pessoas, lugares ou acontecimentos da vida real é mera coincidência. Este é um espaço narrativo, e todas as informações devem ser interpretadas dentro desse contexto.

Moxy Maddox nasceu numa madrugada abafada de terça-feira, 27 de março de 1979, pouco antes das quatro da manhã. A lua minguante se arrastava preguiçosa sobre os telhados adormecidos de Chelyabinsk, e o céu, já tingido de um roxo sujo, parecia anunciar que nada de bom sairia daquela hora. A casa de concreto rachado onde veio ao mundo cheirava a poeira antiga, a produtos químicos mal diluídos, a suor e febre — e a coisa que mais se aproximava de um berçário era o pano velho jogado no chão da cozinha, onde Galina deu à luz entre gemidos abafados e risos nervosos.

Não houve lágrimas de alegria. Nenhum beijo na testa da recém-nascida. O parto foi mais um ato biológico que simbólico, um procedimento feito às pressas entre doses de substâncias e sussurros paranoicos sobre sirenes que não vinham. O nome “Moxy” surgiu no exato momento em que Leonid, com as pupilas dilatadas, segurava um frasco rotulado com “4-MMD” e ria de uma piada que só ele entendia. Chamá-la assim não foi um gesto de afeto, mas de preservação — como se nomeá-la com algo conhecido os impedisse de esquecê-la completamente. Assim nasceu Moxy Maddox: nome de droga, alma selvagem, coração em combustão.

A infância dela se desenrolou como uma sequência de pequenos acidentes em câmera lenta. Era uma menina elétrica, espalhafatosa, de voz aguda e mãos inquietas, que parecia não pertencer ao espaço restrito e morno daquele lar químico. Desde muito cedo, descobriu a existência do porão — e aquilo mudou tudo. O porão da casa dos Maddox era mais do que um cômodo escondido: era uma espécie de templo profano, onde Leonid e Galina fabricavam suas misturas ilegais com a devoção que monges antigos reservavam aos deuses. Havia tubos, vidros coloridos, odores ácidos e o som constante de líquidos borbulhando em chaleiras improvisadas.

Os pais nunca gostaram que ela descesse lá. Não por proteção — não havia instinto protetor algum entre aqueles dois —, mas por puro receio de que ela atrapalhasse ou levasse embora algo que os mantinha anestesiados da realidade. Mas Moxy nunca foi do tipo que aceitava portas fechadas. A proibição, para ela, era convite. Aos cinco anos, já havia decorado os degraus que rangiam menos. Aos seis, sabia onde os frascos mais instáveis eram guardados. Aos sete, misturava cores em potes de geleia vazios, imitando fórmulas que não compreendia, apenas para ver o mundo se transformar em algo menos previsível. Sua relação com a química não era acadêmica; era visceral, primitiva. Era como se os líquidos e vapores falassem uma língua que ela compreendia desde o útero.

A casa, por sua vez, era uma tragédia em andamento. Não havia escola, médicos ou aniversários. O tempo era marcado por ciclos de euforia e colapsos, pela visita de estranhos com olhos fundos e risadas quebradas, por gritos na madrugada e cochichos paranoicos durante o dia. Os irmãos de Moxy — cujos nomes vinham de outras substâncias ou conceitos duvidosos — não eram laços de afeto, mas sobreviventes da mesma trincheira. Um deles desapareceu cedo, levado por uma febre que ninguém tratou. O outro cresceu silencioso, embotado, como se a alma tivesse decidido não habitar completamente aquele corpo.

Moxy, por outro lado, recusava o silêncio. Era escandalosa desde que aprendeu a usar palavras. Arrancava cortinas para fazer capas, pintava as paredes com sangue de nariz só para “decorar” o quarto, subia no telhado com uma bengala e se declarava rainha do caos em Chelyabinsk. Era dramática em tudo: se caía, parecia ter quebrado a perna; se brigava, dizia que o coração estava arruinado para sempre. Chorava com facilidade, mas ria com mais facilidade ainda, com um riso estridente que espantava vizinhos e assustava galinhas. Impulsiva até o limite da sobrevivência, era do tipo que comia cogumelos estranhos só para ver o que acontecia, que acendia isqueiros perto de solventes porque o brilho era bonito, que empurrava a própria sombra para testá-la.

Não teve infância como a maioria. Mas também nunca quis uma. Sentia desprezo por tudo que cheirava a normalidade. Quando, aos nove anos, encontrou um rádio quebrado na rua e conseguiu fazê-lo funcionar com pedaços de fio do porão, passou semanas ouvindo rádios de países que não entendia, só para imaginar outras vidas possíveis. Criava versões para si mesma: Moxy astronauta, Moxy atriz, Moxy princesa russa. Não importava que tudo fosse mentira — mentira, para ela, era uma forma legítima de liberdade.

Foi numa dessas manhãs nubladas, pouco depois de completar onze anos, que a realidade bateu à porta da casa rachada com uma formalidade estranha: uma carta selada, escrita em uma língua que ela nunca tinha ouvido, mas que entendeu de imediato. Hogwarts. Magia. Convite. Aceitação. Tudo ali parecia feito para ela. Leonid achou que fosse alguma fraude governamental e rasgou o primeiro envelope. Galina cuspiu no chão e voltou ao porão. Mas a carta voltou no dia seguinte. E no seguinte. E no seguinte. Foi então que Moxy soube: aquilo não era um pedido. Era um chamado.

Partir para Hogwarts não foi difícil. Nunca se sentiu parte daquela casa. A dor que existia ali não era laço, era cicatriz. Não houve despedida, nem abraço, nem instruções. Ela mesma roubou o equivalente a vinte libras em tubos plásticos, trocou por dinheiro com um cliente da casa, e partiu sozinha, usando uma mochila rasgada e um casaco que não fechava. Na estação, sentiu pela primeira vez que o mundo era maior do que o concreto ao qual estava acostumada.

Em Hogwarts, era como uma faísca caindo sobre lenha seca. Escandalosa, desastrada, barulhenta, encantadora, problemática. O Chapéu Seletor hesitou por longos minutos, dividido entre a astúcia ambiciosa de uma Sonserina e o ímpeto corajoso de uma Grifinória. No fim, pesou mais o fogo indomável, a vontade de agir mesmo com medo, a recusa em se curvar a qualquer autoridade que não fizesse sentido para ela. Foi colocada na Grifinória, não com orgulho, mas com uma espécie de desafio.